Introdução
- A seguir falaremos um pouco da origem do termo LUCUMI, sua origem, localização, cultura e religião. Abordaremos desde ÁFRICA até o Novo Mundo, como se deu sua preservação e como ainda é usado e empregado no ocidente por todos da Tradição YORUBÁ. Veremos alguns resultados de anos de pesquisas de diversos cientistas sobre o tema.
Origem e Preservação
Muito se tem especulado sobre as origens do término LUCUMI. Lydia Cabrera disse a respeito: “LUCUMI é o nome que se dá em Cuba, aos YORUBÁS, que ocupam a parte OCIDENTAL do sul da NIGÉRIA, com as províncias de ABEOKUTÁ, LAGOS, YEBÚ, ONDO” (1).
Em 1951, o professor WILLIAM BASCOM afirmava: “Em CUBA, os povos de língua YORUBÁ se conheciam como LUKUMI (LUCUMI) …Em alguns mapas muito antigos do Oeste da ÁFRICA, se localizava o povo ULKAMY ao Norte e Noroeste de BENIN, porém não se pode encontrar nesta parte da NIGÉRIA nenhum lugar ou povo que hoje se conheça com o nome de LUKUMI (2).
Em 1972 BASCOM parece haver abandonado a hipótese de que o território LUKUMI se designava uma unidade política ou uma região geográfica da ÁFRICA, pois disse: “Em CUBA, os descendentes dos escravos YORUBÁS se conhecem como LUKUMIS, um término que provavelmente se deriva de uma forma YORUBÁ de saudação, OLUKU MI, que significa “meu amigo” (3).
No entanto, OLFERT DAPPER em sua Description de l’Afrique, publicada em 1686, fala do reino de ULCAMI ou ULCUMA, um país situado entre ARDER e BENIN, ao Noroeste (4). Uma das características desse reino é que vendiam um grande número de escravos – já prisioneiros de guerra já criminosos – aos holandeses e aos portugueses, para ser enviados ao NOVO MUNDO.
DAPPER também menciona o vizinho reino de BENIN, onde seu DEUS (ORIXÁ) e onde se celebravam festividades anuais em honra ao mar. Ambos reinos estavam situados no território ocupado pelo grupo étnico que hoje conhecemos como YORUBÁ. DAPPER oferece dois mapas: no primeiro, um mapa da ÁFRICA, encontramos perto de BENIN uma região designada como ULCUMA, no segundo titulado NIGRITARIAM REGIO, esta mesma região aparece como ULKUMÍ. Em 1734, o capitão WILLIAM SNELGRAVE menciona um país que se chama LUCAMEE, situado ao Noroeste do reino de ARDRA (5). Em seu livro há um mapa dessa região onde aparece o reino de ULCUMA ou ULCAMI. Em nenhuma dessas obras se menciona o término YORUBÁ, que originalmente se aplicava só aos OYÓ e que no século XIX os missionários cristãos começaram a usar para referir-se a todas as tribos da região e a sua linguagem comum (7).
- Cabrera (1974a), p.20.
- Bascom (1951), p.10.
- Bascom (1972), p.13
- Dapper (1686), p.307
- Snelgrave (1734), p.89. Lydia Cabrera e Maria Teresa de Rojas possuem um mapa do século XVII onde aparece a tal região claramente situada como ULKUMI. No mapa do cartógrafo francês Nicolás Sanson d’Abbeville (1600-1667), que reproduziu Marrero no terceiro volume de sua obra (p.27), se encontra também uma região chamada ULCUIM, perto do golfo de BENIN, aparentemente formando parte do que d’Abbeville denomina “Royaume Benin”.
- Otiz (1916) e Aguirre Beltrán (1946) também fazem referência a mapas de Drapper e Snelgrave.
Tudo parece indicar, pois, que em tempos remotos havia na ÁFRICA, perto do golfo da GUINÉ, um reino (ou território) chamado ULCAMI, ULCUMI ou LUCAMI, de onde procede a palavra LUCUMI ou LUKUMI.
Muitos escravos cubanos, quando eram perguntados sobre sua origem, ao invés de referir-se ao seu nome tribal, mencionavam a unidade política a que haviam pertencido e se chamavam a si mesmos de LUCUMI. Em CUBA esta palavra se usou de uma forma muito mais geral para referir-se não só ao grupo YORUBÁ propriamente dito, mais também ao que MURDOCK (1959), chama de “racismo” YORUBÁ, que inclui aos EGBA, OYÓ, IFÉ, IJEBÚ, etc. (8). Sendo assim, por exemplo, os escravos se chamavam a si mesmos como LUCUMI-EGBADO, LUCUMI-OYÓ, LUCUMI-IJEBÚ, etc. Também algumas tribos vizinhas, apesar de não estarem compreendidas no “racismo” YORUBÁ, parecem haver sido designadas como LUCUMI (9).
- Smith (1969), p.15. É preciso recordar para evitar confusões que, o término YORUBÁ que hoje se usa para descrever a todos que falam uma linguagem em comum, originalmente se aplicava só ao povo do reino de OYÓ. Não parece ter existido uma palavra que no passado se usava pelos YORUBÁS para designar a eles mesmos. Lloyd (1965), p.551. O velho reino YORUBÁ de OYÓ manteve sua dominação sobre BENIN e DAHOMEY até que seu poderio se ofuscou no século XVIII. No início do século XIX os YORUBÁS estavam divididos em vários estados menores. Véanse: Davidson (1969), pp.201 e ss.; Fage (1969), pp.102 e ss.
- Murdock (1959), pp. 244-245.
- Por exemplo, os grupos Arará e Ibo se incluíam no grupo LUCUMÍ. Ortiz (1916), pp. 26 e 38. Os YORUBÁS são conhecidos também com o nome LUCUMI na COLÔMBIA (Escalante, 1964) e no MÉXICO (Aguirre, 1946). No HAITI e BRASIL se chamavam NAGOS, porque – segundo Aguirre – esse era o nome que lhes davam seus vizinhos FON de DAHOMEY. (Cf. Aguirre, 1946, pp. 132-133). No entanto, em Murdock (1959), p. 245, encontramos um grupo tribal chamado NAGO ou ANAGO, que é uma subtribo EGBA do chamado “racismo” YORUBÁ.
Conclusão
É importante ressaltar que o termo LUCUMI era utilizado por diversos povos da região que tinham em comum serem dominados pelo Império OYÓ, como por exemplo, EGBADO, IJEBÚ, EGBA, etc., que falavam a mesma língua.
LUCUMI é um termo que antecede o YORUBÁ.
Os africanos que foram levados à CUBA se compreendiam como LUCUMIS, pois ainda não tinha sido introduzido o termo YORUBÁ em suas mentes. Foi então que os missionários cristãos denominaram YORUBÁS todos os escravos oriundos dessas regiões e que falavam a mesma língua.
O termo LUCUMI ainda é usado em CUBA para definir e determinar todos os praticantes da Tradicional Religião YORUBÁ.
Ifá Ni L’Órun