Visão Crítica da Situação das Religiões Afro no Brasil por Oluwó Siwajú Evandro Otura Airá

Acredito que o momento é critico, como também vejo uma crise que se agrava a cada ano. Se não atinarmos em nos unirmos dificilmente reverteremos este quadro. Estamos diante de uma situação progressiva e daqui alguns anos nossa religião pode estar a beira do fim.9 - DSC09469
Não pretendo de forma alguma ser extremista em minha declaração, mas sim realista e acredito que os que conhecem nossas debilidades de perto e na prática sabem exatamente do que eu estou falando. Hoje escuto sair da boca de meia dúzia de pessoas que se dizem fazer parte de nosso culto coisas como: nossa religião sobreviveu há décadas assim e sobrevive. Talvez essas mesmas pessoas estejam dentro das igrejas nos anos seguintes, como presenciei a minha vida inteira na religião. Vejo em tais declarações um esbanjar de desconhecimento básico de nossa situação atual. Pessoas que deveriam ter o comprometimento religioso em buscar a solução dos nossos conflitos, mas que infelizmente conhecem nossa religião de fora, da assistência dos barracões ou mesmo dos salões de Candomblé. Digo a eles, suas afirmações não condizem com nossa realidade, portanto não tem a mínima condição de avaliar nossa realidade.
Hoje falo com respeito aos grandes líderes de nosso culto, os pais e mães de santo que honrosamente dão seu sangue, se for necessário, por manter suas casas religiosas de pé a base da luta diária para subsistir, superando o cansaço, vencendo os contratempos, a desunião, verdadeiros sacerdotes que se mantém de pé bravamente com o auxilio da fé, em um país onde somos praticamente massacrados por nossos adversários. Uma religião que perde sua identidade por conta das invenções criadas por aqueles que deveriam ser avaliados antes de assumir um papel sacerdotal dentro da religião, pessoas despreparadas, com problemas emocionais sérios, de caráter, muitos com vícios que precisam de ajuda, abrem casas e mais casas de santo sem nenhum critério religioso, assumindo posição de líder sem nenhuma condição para tal. Através deles absurdos ocorrem que consecutivamente destroem a fé, o sagrado e a descendência de nossa religião, absurdos que não precisam ser citados aqui, pois é uma realidade conhecida por todos. Fatos que levam a cada dia nossa religião ao descrédito total por todos na sociedade e consecutivamente ao abismo. Acredito que esse seja um dos pontos cruciais que desencadeia todos os outros.
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Não quero ser polêmico, mas é praticamente impossível falar de crise sem a indignação ao desrespeito que é tratada nossa religião.
Dados comprovam a perca de 70 por cento de nossos adeptos a cada ano.
A religião cada vez mais banalizada. Lembro-me de uma época onde era comum uma pessoa sair no portão de sua casa e logo ouvir os toques dos tambores, que hoje foi substituído pelo hino das igrejas.
Um tempo onde minha mãe rezava as crianças recém-nascidas dos vizinhos de onde morávamos, os de hoje nos agridem e nem sequer nos cumprimentam por saber que pertencemos aos cultos Afros. Nossos filhos são tratados com desigualdade nas escolas, muitos se disserem em que culto pertencem, perdem seus empregos, uma realidade critica e impraticável em tempos futuros. Outro ponto critico em conjunto com que disse acima, seja a dificuldade de sustentação de nossa religião, que acaba por estar comprometida em tempos futuros por falta de continuidade de bons descendentes, dado a disseminação errônea do culto onde muitos dos neófitos de hoje se formam ( SEM GENERALIZAR). Quero lembrar que religião Afro, descendentes ainda sobrevivem do pouco que os antigos deixaram e a luta dos poucos antigos que ainda se mantém vivos. A religião vem se extinguindo por falta de descendentes sustentáveis nos tempos atuais. Lembremos que bons descendentes significa continuidade futuras. Se não há descendentes, não há futuro.
Vejo uma religião agonizando, talvez muitos não percebam, por estarem preocupados somente consigo mesmo, acreditando talvez, quando tudo acontecer, estarão mortos. O problema é que sentimos na pele os sintomas nos dias atuais.
Oluwó Siwajú Evandro Otura Airá Ifá Ni L’Órun