Em CUBA, como no BRASIL, os YORUBÁS se encontraram com uma afortunada confluência de fatores que lhes permitiram conservar muito de sua cultura. Em CUBA, duas instituições convergiram inadvertidamente para fazer isso possível: os Clubes de Espanhóis e a Igreja Católica Romana.
Em CUBA, os colonizadores espanhóis não constituíram um grupo homogêneo; provinham de GALÍCIA, VIZCAYA, ASTURIAS, ANDALUZIA e das ILHAS CANÁRIAS. Falavam GALEGO, CATALÃO e VASCO, além do ESPANHOL OFICIAL DE CASTILLA. Cada um desses grupos formou seu próprio clube social e sua sociedade de ajuda mútua de acordo com suas características étnicas, regionais e linguísticas.
A diferença de seus colonizadores anglófonos (de fala inglesa), os espanhóis e os portugueses que possuíam escravos, promoviam o desenvolvimento de facções étnicas entre seus escravos, pensando que desta maneira estariam divididos e não se uniriam contra eles. Sob os auspícios da Igreja e supostamente para evangelizar os africanos, se permitia aos escravos e negros livres, organizar seus próprios clubes sociais e suas sociedades mutualistas. Estas sociedades chamadas “CABILDOS” eram imitações dos clubes espanhóis e também se organizavam conforme as características étnicas, regionais e linguística de seus membros.
Existem provas documentais de que em 1568 já havia clubes africanos chamados CABILDOS em HAVANA. Sabe-se que alguns desses CABILDOS seguiram funcionando na CUBA revolucionária. Logo, os CABILDOS cumpriam a função singular de lugares onde se preservavam as “Velhas Tradições” da ÁFRICA.
A função religiosa dos CABILDOS como depositários das crenças religiosas dos africanos, passou a ser finalmente a característica dominante desses clubes. Apesar de muitas tradições africanas distintas se preservarem nos CABILDOS, provavelmente a religião que mais se beneficiou foi a YORUBÁ-LUKUMI. Três grandes tradições, cada uma relacionada com determinados grupos linguísticos, tem sobrevivido até o momento entre os afro-cubanos:
As tradições de PALO MONTE e de PALO MAYOMBE, do povo CONGO falante da língua BANTU, as sociedades ABAKUÁ-ÑÁÑIGO dos CARABALI, falantes da língua EFIK e a religião LUKUMI ou REGRA DE OSHA DOS LUKUMIS, que falam o YORUBÁ.
Outros grupos menores como o FON (chamado ARARÁ em CUBA ou DJEDJE no BRASIL), também puderam conservar seus costumes. Supostamente, os LUKUMIS se adaptaram melhor ao ambiente cubano.
De fato, a razão do êxito da REGRA DE OSHA LUKUMI pode dever-se a sua similaridade intrínseca com as formas populares do catolicismo, especialmente a devoção aos ORISHÁS e os católicos aos SANTOS.
O catolicismo europeu nunca erradicou seus precursores “pagãos”. Inclusive a expressão devota de um país católico tão ortodoxo como a IRLANDA segue mostrando vestígios da religião pré-cristã, por exemplo, está muito estendida a crença de que Santa Brígida é uma deusa celta cristianizada.
No catolicismo popular, a linha entre a veneração que se deve só a DEUS e a veneração que se concede a seus santos, tem sido desfocada com frequência. Os escravos observavam quando seus amos brancos se prostravam em frente as imagens de seus santos, oferecendo-lhes flores e acendendo velas em frente a eles, a fim de agradecer as imagens os pedidos concedidos.
Acreditavam que Santa Bárbara, por exemplo, santa padroeira dos soldados, tinha faculdade de enviar relâmpagos do céu à Terra.
Os astutos africanos aproveitaram a oportunidade para conservar vivas suas antigas deidades, os ORISHÁS, disfarçando-as a propósito dos santos católicos, associando um santo católico a um ORISHÁ YORUBÁ, assim preservando seus ORISHÁS, disfarçados de santos católicos.
Ifá Ni L’Órun