Na terra AKARAKANIYÉ, que era na beira do rio, havia um OBÁ (rei) que tinha muitos escravos e entre eles havia um que se distinguia dos outros, porque era OLUWÓ OSSAIN e todos os demais escravos o respeitavam e cada um deles, quando se enfermava, o buscavam para que ele os curasse, dado o conhecimento que tinha dos distintos EWÉS (ervas).
Um dia o OBÁ soube do domínio que esse escravo tinha sobre as propriedades das ervas e começou a sentir inveja, pois sendo ele o OBÁ, não conhecia nada de ervas e buscou uma forma de desmoralizá-lo.
Esse escravo se chamava ERÚ KAYODÉ e era OMO OXUM (filho de OXUM) e um dia estava pegando ervas perto de onde morava e se pôs a cantar:
“OMO OSSAIN ENDI EWÉ GBOGBO ORISÁ EWÉ OYÚ OMA PARIOLÉ”.
Depois caminhou até o rio e quando chegou à margem, viu sua IYÁ (mãe) no meio do rio. Ele se ajoelhou e cantou:
“OLORI MI OSÁ AGBÁ IYERO BOLÉ IYÁ MI IYESÁ MODÉ IRÉ IYÁ MIO IYESÉ ORÓ”.
OXUM saiu do rio e pôs suas mãos na cabeça dele e o abençoou dizendo:
“Tens muito conhecimento de OSSAIN que ele e eu temos te dado, mas a inveja e a traição te ronda e para que possas vencer, tens que procurar ORUNMILÁ de minha parte e quando for levar as ervas para ele, leve esta também que é EWÉ EWEDÓ, que ele sabe o segredo que tem que fazer com a mesma”.
ERÚ KAYODÉ terminou de pegar as ervas e foi para a Casa de ORUNMILÁ, quem lhe fez um OSODE (consulta com IFÁ) e lhe disse:
“Tua sorte está do outro lado do rio e lhe dará uma mulher, mas tens uma grande traição em seu caminho e para vencê-la tens que se banhar com EWÉ EWEDÓ que OXUM lhe deu e fazer alguns sacrifícios e oferendas”.
ORUNMILÁ fez tudo para ele e depois disse:
“Tens que voltar a IBÚ LOSÁ (rio) e ali chamar o ORIXÁ INLÉ que é quem te salvará”.
Quando ERÚ KAYODÉ chegou a margem do rio, começou a tocar o agogô e a cantar:
“O INLÉ ADAMU ORISÁ ASÉ LEYÓ INLÉ ASÉ ASÉ LEYÓ INKIN YÁ IPORÁ EWAMÍ”.
Entrou no rio e fez algumas oferendas, mergulhou no fundo e cantou:
“EYAORÓ SÁ INLÉ ORÓ DAGUNLÁ OMO INLÉ AYAYÁ O NIKEÓ”.
Veio a superfície e já no meio do rio cantou:
“EYÁ LAGBÁ FIFUN OMO ODO OMO INLÉ EYÁ GANGAN OMO ERO FIBALÉ INLÉ EYÁ LAGBA”.
Quando ele voltou à margem do rio, fez mais algumas oferendas e sacrifícios e depois voltou para a fazenda do amo, se recostou e dormiu.
Começou a sonhar onde lhe apareceu INLÉ vestido de ASÓ (pano) FUNFUN e ASÓ AROLODÓ (azul) e lhe deu um SUYERE (canto) para quando estivesse em perigo o chamasse.
No dia seguinte ERÚ KAYODÉ começou suas tarefas e pela tarde, depois de terminar, foi pegar ervas, mas o amo havia mandado seus servos prendê-lo.
Os mesmos o levaram diante do amo e este mandou açoitá-lo e ordenou que o introduzissem em uma caixa e o lançassem no rio para que a corrente o levasse e o afogasse.
O amo fez isso porque não podia aceitar que ninguém soubesse mais que ele. Quando o atiraram ao rio, em um momento de lucidez que teve, o escravo balbuciou o SUYERÉ que INLÉ o havia ensinado:
“EYÁ EYÁ INLÉ EYÁ ERUMALÉ EYÁ INLÉ ERUMALÉ EYÁ AGBÁ ORISÁ GBOGBO NI YERÓ UNLÉ ORUMALÉ”.
Então os peixes do rio, que eram GUABINAS, começaram a se reunir e arrastaram a caixa até a beira do rio, que era a terra IYESÁ MODÓ, onde o OBÁ (rei) dali havia morrido e quando consultaram IFÁ este disse:
“A sorte e o novo OBÁ virá pelo rio”.
Quando eles viram chegar a caixa, muito assombrados o tiraram da água, abriram a caixa e viram em seu interior um homem quase moribundo com muitos EWÉS (ervas) e muito EWÉ EWEDÓ.
Eles o curaram, o renderam MOFORIBALÉ (reverências) e o fizeram OBÁ daquela terra IYESÁ MODÓ e todos se banharam com EWÉ EWEDÓ.
Quando o OBÁ da terra AKARAKANIYÉ se inteirou que ele havia sido seu escravo e havia se salvado e que era o OBÁ daquela terra de IYESÁ MODÓ, não quis acreditar nisso e cruzou o rio até chegar a outra terra.
Ao ver que era verdade, de desgosto, OTOKÚ (faleceu).
Então todas as pessoas da terra AKARAKANIYÉ foram à terra IYESÁ MODÓ e renderam MOFORIBALÉ a ERÚ KAYODÉ que era o nome pelo qual eles o conheciam e o nomearam também OBÁ de suas terras.
Assim se uniram as duas terras, IYESÁ MODÓ, terra de OXUM e a terra AKARAKANIYÉ, terra de INLÉ e ERÚ KAYODÉ as governou por virtude de ORUNMILÁ e poder de OSSAIN, OXUM e INLÉ ABATA.
Maferefun ORUNMILÁ
Maferefun OXUM
Maferefun INLÉ ABATA
Ifá Ni L’Órun