Com o rumo que há tomado nossa religião, vemos com muita preocupação, como as novas gerações de OLOSHAS (OMO ORISHÁS) desconhecem sua procedência ou linhagem religiosa.
Ao escutar as mojubas, apreciamos as pessoas fazerem menção de alguns nomes, porém, quando perguntamos sobre os mesmos, desconhecem totalmente sua importância histórica.
Falaremos agora sobre as chamadas FAMÍLIAS DE ORISHÁS. O que seria FAMÍLIAS DE ORISHÁS Não se pode falar de FAMÍLIAS DE ORISHÁS, sem dizer sobre sua origem nos chamados CABILDOS (ASSOCIAÇÕES RELIGIOSAS) Afro-Cubanos. Estes eram associações onde se reuniam negros e negras escravas e também libertos, em casas destinadas para tal fim e onde se faziam celebrações nos dias de festividades católicas, mostrando as danças e cantos tradicionais tipicamente africanos.
Cada CABILDO se caracterizava por reunir em seu seio os africanos provenientes de uma mesma nação. Este tinha como função a preservação dos costumes e tradições culturais e religiosas desse grupo de pessoas.
A máxima autoridade dos CABILDOS a exercia um rei que, em geral, era o mais ancião do grupo. Este rei se chamava capataz ou capitão. A função mais importante do rei era constituir-se em custódio dos bens da associação. Além disso era quem impunha multas aos associados. Com certeza estas funções estavam marcadas dentro do curto raio de ação que os brancos permitiam.
Alguns CABILDOS, além de possuir o rei, contavam com uma rainha, cuja importância em muitas dessas instituições foi vital. Ali as mulheres nunca estiveram renegadas nem marginalizadas. Sua presença se fez sentir, deixando marcas dentro dos CABILDOS.
Existem referências históricas muito antigas dessas instituições. Crê-se que já existiam em 1568. Nelas destacavam, como parte importante, as celebrações de cunho religioso, que se vinculavam ao santoral católico. A alma dos CABILDOS eram as danças, já que se dançavam a dança típica de cada nação africana. Podemos definir isso da seguinte maneira: “reuniões dos integrantes de cada nação nos dias festivos para dançar a dança típica de cada país”. Porém, sem dúvida, estas reuniões eram para algo mais que dançar, eram mais que uma festa. Nesses lugares buscavam preservar suas raízes culturais e religiosas. A função religiosa dos CABILDOS, como depósitos das crenças religiosas dos africanos, passou a ser finalmente a característica predominante desses lugares. Neles se preservavam os rituais de devoção aos ORISHÁS de cada nação correspondente, assim como seus cantos e suas danças típicas. Portas adentro de casas de senzalas dos CABILDOS, deu origem ao sincretismo. Ali começou a adoração ao ORISHÁ através do santo católico como uma maneira de se defender e permanecer com o culto aos ORISHÁS.
Recordemos a proibição das autoridades espanholas de celebrar e adorar a qualquer Deus Africano. O caráter religioso dos CABILDOS é claramente demonstrado em alguns decretos da época. Por exemplo, o do ano de 1792: “Não se permitirá aos negros que nas casas e senzalas em seus CABILDOS, levantem altares de nossos santos para as danças que formam o costume de suas terras, cuja proibição intimarão aos comissários, sem perda de tempo, aos capatazes de cada nação e não obstante, continuarem com o mesmo abuso, incorrerá na multa de oito ducados (moeda de ouro antiga) em suas respectivas casas, desfazendo antes de qualquer coisa o altar, cujas imagens, peças e móveis se entregarão ao curador ou tenente da paróquia do bairro, para que este lhes dê o destino que tenha por conveniência”.
Outro aspecto religioso se observa no feito de que os CABILDOS contribuíam ao pagamento das pompas fúnebres de seus associados. Não podemos desassociar dos CABILDOS o surgimento e expansão do que hoje conhecemos como REGRA DE OSHA LUKUMI.
A permanência dessas instituições durante anos, manteve vivo o legado religioso dos africanos. Permitiu que a REGRA DE OSHA LUKUMI chegasse aos nossos dias atuais. Ao se decretar a abolição da escravatura em CUBA, quase no final do Século XIX, estas instituições começaram a decair. Ainda que muitas continuassem com o trabalho de impedir que se perdessem as tradições culturais e religiosas. Graças ao costume e a tradição de estarem sempre organizados, os africanos e seus descendentes foram constituindo as chamadas FAMÍLIAS DE ORISHÁS, que diferente dos CABILDOS, não possuíam sedes próprias.
Ifá Ni L’Órun