Ifá é uma religião ainda muito pouco compreendida no Brasil, embora dados históricos a certifique como a mais antiga, ainda que em nossas terras não seja. Essa prematuridade de Ifá no Brasil facilita a investida de pessoas que vivem abaixo a uma condição moral e ética e que se aproveitam das circunstâncias para se apresentarem como seres que não são e nunca serão, se propondo a emitir opiniões sobre assuntos desconhecidos por elas mesmas, construindo erroneamente conceitos que não fazem parte e nunca farão de Ifá.
Se analisarmos o momento de descobertas de Ifá no Brasil chegaremos à conclusão de que se trata de uma fase mais do que normal para que Ifá se estabeleça em nossas terras de forma digna, onde os questionamentos são normais, as dúvidas são normais, o medo e a insegurança são mais do que normais, as renúncias são normais, embora esse cenário favoreça a investida de pessoas má intencionadas, descapacitadas, que buscam de uma forma oportunista tirar vantagens dentro desse universo de desordem e incertezas. São personagens que estão cegos pela ambição, pela vingança, pela inveja, pela ilusão de que vão lucrar, destruir, ou mesmo vingar-se de algo e não se dão conta de que Orunmilá e Olófin são os que governam tudo e que estão sendo usados pela própria natureza de forma negativa a servirem de exemplos ruins no futuro de Ifá para humanidade, semeando o mau em suas próprias vidas, como diz Ifá: O mal fecunda o mal para quem o pratica.
Como tudo na vida tem dois lados, acredito que tais acontecimentos sejam necessários para despertar um alerta nas mentes de pessoas idôneas as obrigando a buscar meios para combater essa prática comum e maligna de nossa sociedade religiosa, e acredito que outros sacerdotes como eu já tenham em mente meios para tal, e dessa forma infelizmente, após muitas guerras no futuro acreditamos em uma religião mais limpa e blindada.
Lamentavelmente esses falsos religiosos tentam sobreviver daquilo que conseguem angariar com seus ataques covardes, utilizando de meios inescrupulosos para conquistar algo que seria impossível dentro de suas reais condições religiosas e por estarem em condições religiosas precárias diante de Orunmilá e dos Orishás, suas investidas são em vão, acabando por sucumbirem em pouco tempo.
Esses indivíduos não compreendem que quanto mais nossa religião for respeitada na sociedade, mais paz e desenvolvimentos espirituais terão em seus templos, deixando um universo religioso mais sólido, harmônico e digno para seus descendentes.
A segurança de um sacerdote esta nos Orishás, Orunmilá e neles mesmos, se caso um religioso necessite utilizar da mentira ou de outro artifício negativo para se promoverem estão assinando um atestado de incompetência total religiosa. Suas armas são sempre as mesmas: Seu Eshú faltou uma pena? Seu santo faltou uma pedra? Falam como se estivesse faltando mesmo.
Eu os pergunto: Quer dizer então que um determinado problema de um indivíduo está ligado a falta de uma pena verde em Eshú? Ou um Eshú que deixou de ser montado? Ou mesmo a suspeita de um Orishá errado? Não é pelo caráter, pelas fraquezas, pelas maldades, os erros contidos dentro dessas pessoas que comprovamos ao analisar os fatos reais de suas vidas durante seu percurso dentro de seus respectivos signos? Foi à falta da pena? Então, a partir do momento que a tal pena seja posta nunca mais a pessoa terá problemas na vida? É isso que querem dizer? E por que então após a suposta correção da tal pena continuam na mesma? E como sobreviveram os sacerdotes antigos que em seus Igbás só possuíam as pedras e algumas poucas ferramentas? Bem, isso pode falar a um imbecil ou a um leigo. No mais, todas as cerimônias contidas dentro de um Odú Ifá tem uma vida inteira para serem realizadas, o tempo quem determina é Ifá.
A filosofia de Ifá é pautada na correção das falhas para alcançarmos um êxito de acordo com nossos merecimentos sem fugir de nossas verdadeiras realidades pessoais, dizer o contrário é vender sonhos, é por na mente de pessoas ingênuas a falta de algo que não existe e que serão incapazes de tornar real, se aproveitando do ego e da vaidade de cada um. Isso é mentir!
Eu os pergunto: Que leva um Awó a fechar os olhos para a realidade emitida pelo Odú de uma pessoa buscando mentiras para justificar uma falha comum na vida de qualquer pessoa, procurando subterfúgios que fogem totalmente as necessidades do individuo, o desviando completamente da verdade? Como fazem isso se tem a verdade em mãos? Só tem uma resposta, não estão preocupados em ver verdades, seus objetivos são outros, esquecem que nossa tradição é escrita, e por ser escrita tudo pode ser provado.
Ainda existem aqueles que para eles sejam mais cômodo escutar uma falsa verdade do que encarar que são os verdadeiros culpados. Como diz Ifá: Uma coisa deseja o bêbado, e outra quem deseja vender a bebida. (Conveniência)
Em nossa tradição de Ifá tudo se prova, não temos lacuna que permita em nosso conceito filosófico e literário a dúvida diante de qualquer ritual litúrgico ou procedimento religioso que se pratica, embora essa mesma escritura possa ser ignorada por muitos daqueles onde seus objetivos estão longe de ser a religião. Disse Ifá: As boas ações provêm da intenção.
As escrituras de Ifá nos embasam de tudo que podemos ou não praticar em Ifá, nelas estão as verdades, e principalmente as justificativas de tudo que praticamos em nossa tradição, sendo um total de 256 odús de Ifá com extensos caminhos que com muitos estudos e dedicação levaria tempo grande para assimilação da mesma.
Ai eu os pergunto senhores e senhoras dentro de uma lógica latente: Como um iniciado ou um leigo que não aprendeu absolutamente nada de Ifá pode opinar sobre o que está certo ou errado em uma tradição? Como podem falar de fundamentos se nada conhecem? Como podem falar de mentiras se portando como conhecedores que não são? Onde está a mentira? Olhem-se no espelho!
Questionar uma tradição inteira por interesses pessoais, e por em dúvida centenas de anos do sangue de ancestrais que mojubamos diariamente é crime! Sem contar que plantar a dúvida e a discórdia na mente de pessoas leigas e carentes de religiosidade, assumimos a dívida do destino dessas pessoas perante Olodumaré e pagaremos as contas. Disse Ifá: Cabrito que rompe tambor com seu próprio coro paga.
O ser humano tem o dom de fugir de suas próprias verdades, desconsiderando as escolhas ruins, os passos mal dados, as incapacidades pessoais, as limitações, e buscam na religião um bem estar, uma mágica, um milagre que não se dão conta de que não merecem, e que a vitória seria o sacrifício de seus erros, junto com a compreensão do que necessitam fazer, mas por não terem coragem de assumir seus erros procuram um culpado, e muitas vezes são os nossos deuses, a religião, um sacerdote etc.
Como enriquecer sem estudos e sem esforços?
Como viver bem em um matrimônio incompatível?
Como sair na chuva e não adoecer?
Como ser compulsivo e não contrair dívidas?
Como viver em paz se buscamos a guerra?
Digo sempre em meus ensinamentos: O pior religioso é aquele que busca algo na religião que foge a lógica da vida, e do que vivem. Isso é mentir!
Ogbe Fun! Buscamos o impossível e o culpado é a religião e etc? Na hora de assumirmos os erros o orgulho não permite? É mais fácil culpar o próximo, porém serão eternamente prisioneiros do próprio universo medíocre, e os acontecimentos se repetirão para sempre com outras pessoas, em outros lugares, mas no mesmo cenário, com as mesmas sequelas, e no fim gritarão: Minha vida não sai do lugar, ou nada para mim da certo, mas no fim viverão aquilo que mais temem: Serão humilhados pela vida.
Ogbe Fun: Orunmilá após fazer ebó em todos disse: Filhos, conforme se cuidem da mesma forma viverão.
Alguns sem condição moral alguma utilizam sempre o refrão de Ifá onde diz que a mentira viaja pôr vinte anos e nunca chega a lugar algum, nesse caso Ifá nos adverte que devemos olhar vinte anos atrás na vida de cada pessoa para conhecer as verdades do que ela mostra no presente, assim constatamos a mentira.
Para chegarmos à profundidade da hipocrisia, basta voltarmos há dez anos na vida de cada pessoa que se coloca como vítima e pobre coitada na sociedade, dessa forma conheceríamos suas realidades do passado e compreenderíamos suas verdades do presente, e assim a mentira sempre seria descoberta no hoje e junto com ela a hipocrisia. Já que a vida de uma pessoa é composta de três fases como diz Ifá: presente, passado e futuro.
Uma mentira só se torna verdade quando o desejo é comum a todos, pois só se ignora a verdade quando o capricho passa a ser o objetivo.
Ainda tem aqueles que se rastejam pela vida, são sobreviventes da religião ou da vida mesmo, que não possuem filhos, casas, amigos, família, saúde etc, e se propõem em dizer que são exemplos a serem seguidos, porque os bem sucedidos e abençoados que possuem de tudo na vida proporcionado por Olófin, na cabeça deles são os condenados, e tudo é uma farsa. Ai eu os pergunto: Quer dizer então que maldição virou benção? Da forma que pregam, então os abençoados por Olófin são os solitários? Os fracassados? Os rejeitados? Os humilhados? Às vezes eu creio que essas pessoas não saibam em que mundo estão ou acham que todos somos crianças, não é possível!! Bom, para mim e para o entendimento religioso que sigo esses sim são condenados. Já que o conceito Yorubá de riqueza para um homem, por exemplo, é ter bons amigos, mulher que o ame e seja fiel, bons filhos, saúde e bem estar. Com relação a religião, disse Ifá: A hierarquia de Ifá coloca cada um no lugar que merece por seus feitos e méritos, ou seja, cada um com aquilo que merece, e quem decide é Orunmilá. Isso é verdade!
Em todas as situações da vida existem sempre os dois lados, as pessoas devem ter o mínimo de maturidade para analisarem bem seus passos para não serem inconsequentes em suas ações e devem sempre estar dispostas às consequências negativas de acordo com suas movimentações, pois a vida não costuma oferecer lenços para ninguém secar lágrimas, do lado contrário pode haver meia dúzia de pessoas de certezas fúteis e de supostas verdades, enquanto que do lado de cá pode haver duas mil pessoas idôneas com verdades contundentes e concretas! O bom é saber que a vida não se vive como na ficção das telenovelas.
Em breve novo lançamento da revista, com vários eventos sobre Ifá onde desvendaremos os mitos que cercam Ifá em nossa tradição. Varias entrevistas com diversos sacerdotes em Cuba, no Brasil e no mundo.
Texto Oluwó Siwajú Evandro Otura Aira