A grande salvação de Ifá consiste em buscarmos entender nosso mundo pessoal através do Odú que foi revelado no Ita na iniciação. Os Patakis (histórias religiosas) contêm orientações particulares que apontam os acontecimentos específicos da vida cotidiana de um individuo como doenças, amores, trabalho, dinheiro, traição, inimigos, ganhos e perdas e a forma de solucioná-los. Tais informações nos leva a compreensão real do universo onde nos desenvolvemos e desta forma adquirimos a consciência de onde estamos e para onde estamos indo absorvendo o saber necessário e imprescindível para darmos os passos precisos para suplantarmos nossos obstáculos.
Disse Ifá em Odi Meji: “Somos cada um de nós um universo e uma personalidade distinta”.
É importante frisar que não há ebó, não há consagrações que nos leve a um patamar de vida que não merecemos e não lutamos para conquistar, mesmo porque a natureza atua em nossas vidas de acordo com nossos passos (esforços e merecimentos). Devemos fazer por onde para que tudo aconteça e ter a consciência do que somos e merecemos. É uma ignorância esperar que a vida e os deuses nos tragam benefícios que estão longe de nossa realidade.
Disse Ifá : “Não é sábio seguir um caminho que não nos garanta o triunfo”.
Pôr em pratica tais recomendações de Ifá pode não ser fácil para muitos pelo motivo de que muitas delas desconstroem as mentiras cômodas que criamos sobre o que somos e construímos a nossa volta. Embora esses devaneios sejam confortáveis eles nos condenam a viver anos acreditando em uma ilusão que jamais se tornará realidade, desperdiçando o maior bem que um ser humano pode ter:
O tempo (Ogbe Roso: “A mentira caminha por vinte anos e nunca chega a lugar algum”) resultado: Frustrações e fracassos.
Lembre-se que Orunmilá mostra o caminho, mas quem decide somos nós. (Livre arbítrio)
Em vários Odús de Ifá constatamos as seguintes expressões: A vaidade, orgulho, soberba, violência, incredulidade, a fofoca, ambição desmedida como os maiores males da essência negativa do ser humano e qual seria o ebó capaz de solucionar as consequências muitas vezes trágicas dos que atuam com alguma das personalidades citadas acima? Acreditar que um ebó solucionará uma consequência ruim de nosso caráter não é o mesmo conceito dos cristãos que tanto criticamos? Façam o que queiram que no fim Deus te salvará? O que devemos sacrificar nesse caso, um carneiro? Consagrar um orishá? Se converter? Não, neste caso Ifá nos adverte que o maior ebó (sacrifício) que um pode fazer por si é aceitar e ter a coragem de sacrificar os erros de sua personalidade (Vaidade, orgulho, ambição, mentira, etc) que impedem seu Progresso no campo material e espiritual, sendo este o maior sacrifício (ebó) que se prescreve dentro da filosofia de Ifá, devemos ter disposição para realizá-lo, do contrário nenhum outro ebó, ou súplica surtirá efeito.
Qual seria o Ebó? A coragem de sacrificar a vaidade destrutiva.
A certeza de estar no rumo certo, mesmo estando longe do que almejamos na vida é ter o parâmetro essencial para tomarmos as medidas necessárias e desta forma alcançar as metas de nosso destino, nos livrando dos enganos, munindo nosso espirito de paz interior, pois teremos a consciência de que tudo é uma questão de tempo, mas para isso devemos olhar a verdade como realmente é (Ogbe Weñe).
É no mínimo vergonhoso e covarde colocar a culpa nos deuses de nossas limitações, de nossa falta de aptidão, de inteligência, dos nossos erros de escolhas, das consequências dos nossos erros, da covardia de fazer as renúncias necessárias; saber renunciar é um ato de coragem (Oshe meji: “Perdendo se ganha”). Então somos medíocres e a culpa é de nossos deuses? Somos preguiçosos e a culpa é de nossos deuses? Somos fracos e a culpa é de nossos deuses?
Disse Ifá: “A pior escuridão está no capricho de enganar a si mesmo acreditando estar fazendo um bem”.
Iroso Irete (Unkuemi): Os Orishás existem para ajudar a suportar as provas do destino da humanidade dando forças para suplantar as mesmas e não para impedir que elas aconteçam, já que temos um destino a cumprir.
Devemos entender que ser inteligente (INTELECTO ALTO) não significa ser sábio (MATURIDADE), já que maturidade é a arte de saber aplicar a inteligência e conhecimento adquirido (Ogbe Di: “Inteligência e sabedoria devem caminhar juntas”).
Devemos buscar a sabedoria para compreender que nunca conseguiremos transformar devaneios mentais em realidade, vivendo em um mundo de ilusões (Mentiras) (Ogunda Dio).
Em um determinado Odú Obatalá desafia Orunmilá em uma prova que consistia secar o mar com uma cabaça Em contra partida pediu que Obatalá cozinhasse as pedras para se alimentarem ao longo da tarefa e logo Obatalá constatou que suas lutas eram em vão. (Ogbe Fun)
Qual seria o Ebó? A sabedoria!
A falta de raciocínio lógico muitas vezes diante da vida cega o homem diante de uma realidade obvia. Pergunto: Por que crer em Ifá? Para enxergar aquilo que a imaturidade não deixa.
Qual seria o sacrifício? O capricho imaturo.
Quantos amigos, casamentos, amores, projetos fracassamos por querer transformar eles no que não são? Viveremos como Obatalá, passaremos a vida inteira e nunca conseguiremos cozinhar as pedras? Sim, pois disse Ifá: “Quem vive de ilusão morre de desilusão”.
Qual seria o Ebó neste caso? A obediência!
Digo sempre: Quem sabe tudo sobre si não precisa de Ifá, Ifá é para aqueles que têm a humildade e sabedoria de reconhecer que somos eternos aprendizes em um mundo onde nunca saberemos tudo e os vencedores são sempre aqueles que nunca cansam de aprender.
É qual seria o Ebó? A consciência real da filosofia de Ifá.
Iboru, Iboya, Ibosheshe
Texto do Oluwó Siwajú Evandro Otura Aira Ifá Ni L’Órun. Babalawó da Rama Afro Cubana.